“Não existe nada no pop-rock hoje que seja capaz de criar um movimento”, diz Rick Bonadio

Rick Bonadio é um dos produtores musicais mais bem-sucedidos do país, responsável pelo surgimento de vários nomes de sucesso como os Mamonas Assassinas, o NX Zero, o Rouge, entre outros. Atualmente, é proprietário de um dos melhores estúdios de gravação do país, entre outras funções ligadas ao show business, e conversou com a gente sobre música, reality show, pop-rock nacional e streaming.

Tranquilo e sem titubear nas respostas, o paulistano de 47 anos compartilhou experiências de trabalho com a equipe da Deezer em São Paulo como parte da série Vença do Jeito Certo, realizada pela Chivas Regal e o canal Fox do Brasil.

Logo de entrada, sua opinião sobre o que espera do pop-rock brasileiro vai ao encontro do que é visto nas rádios país afora, ao afirmar que o segmento precisa de renovação. “Estamos em um momento de baixa. Houve um ciclo muito forte do pop-rock no Brasil, mas que agora está extenuado. Mas a partir desse momento é que começam a surgir coisas críveis, mais criativas, diferentes”.

Entre as “coisas mais diferentes”, não está o fortalecimento de uma cena pop, como a que existe nos Estados Unidos. De acordo com Bonadio, o mercado nacional para o gênero não é tão forte como o norte-americano, por exemplo. “No Brasil, por mais que no momento a gente tenha uma coisa muito popular fazendo sucesso, isso vai enjoar, porque as letras, são muito comerciais, muito simples, muito básicas. E isso vai cansar”.

Ele também reforça que por aqui o público tem a cultura das letras – da composição -, e que a junção entre o rap e o hip-hop, podem trazer um conteúdo para as canções do rock. “Tem coisas que podem vir da MPB, que podem vir do samba, que acabam se juntando e se mesclando, e a gente vai ter uma cena nova de pop-rock”, afirma o produtor. “Mas não uma cena pop como a norte-americana, aquele pop teen que sempre existiu nos Estados Unidos, ela não funciona no Brasil. A letra, a questão de encaixar aquele tipo de melodia, aquilo veio muito do R&B e é muito difícil de funcionar. É mais fácil o sertanejo ser pop do que o R&B, aqui no Brasil”.

Com um pop-rock descansando e uma cena pop que não tem características próprias, será que o funk pode chegar a ocupar o espaço desses segmentos no país? Bonadio é categórico quanto a isso ao afirmar que o estilo não chegaria a ocupar o espaço do rock no Brasil, pois “O funk só não é o rock porque o funk está mais pro axé, em termos de entretenimento. O axé, com letras fáceis, divertidas, bagunceiras. O funk é aquilo que o cara ouve quando ele está na festa”. E complementa:“O cara não vai ouvir um funk, no fone de ouvido, na casa dele, na hora que ele quer curtir um som. É um tipo de som que você ouve no carro, se está com uma galera de amigos indo pra balada, mas quando você esta ali com a sua namorada, com os amigos e você quer ouvir um som, você não vai ouvir funk”.

Mamonas Assassinas
Diante do cenário que temos hoje, de consciência popular, chegamos à banda que o colocou no radar das grandes produções. Há pouco tempo, Bonadio disse que atualmente os Mamonas Assassinas “não seriam viáveis. Eu não falei que eles não dariam certo. É que algumas pessoas interpretaram errado”. E dentro dessa nova conjuntura na qual um grupo como o Mamonas seria inviável, surge o fato ocorrido com MC Biel que, recentemente, assediou uma repórter.

Sobre isso, o produtor comenta que há dez anos teria sido diferente. “O Biel foi descuidado, e tá pagando o preço por isso. É um erro muito grave que ele nem percebeu e esse é o problema. Não é desculpa o artista não perceber e dizer, ‘ahh eu não fiz isso de propósito, eu não percebi’. Não existe isso, malandro! Agora aqui, você é o artista, você é vitrine”.

E segue comentando sobre as mudanças do país e, consequentemente do público que, agora, exige mais dos seus artistas. “Não adianta ele fechar os olhos sobre o que tá acontecendo na sociedade. Nós temos uma situação política delicadíssima, e a gente tem um monte de ideias na sociedade que estão se maturando. O Brasil tá se desenvolvendo socialmente. Existe no momento uma coisa muito quente pra isso. Temas como o feminismo, a cultura contra o estupro, a proteção dos animais, a questão política…”

Esse conhecimento sobre a situação cultural do país hoje é aplicado por Bonadio quando ele é o responsável por gerenciar carreiras. O produtor, desde o início, é conhecido por cuidar de quase todos os aspectos do trabalho de seus artistas, e ressalta que sempre aconselha quem realiza projetos com ele em relação a temas mais delicados. “Eu converso com os artistas desde o começo do trabalho. Você faz o repertório de um disco e às vezes o cara tem uma música que é mais política, uma música que é mais de bagunça, uma música que cutuca uma coisa ali. E eu puxo pelo assunto, pelo repertório para chegar no momento e dizer pro cara: ‘Você tem que se posicionar. Você é um cara contestador ou é um cara que não vai entrar nessa discussão? Se você não entrar, toma cuidado com o que você fala para não gerar discussão’.”

O pop/Rock nacional pode voltar para o mainstream?
Atualmente, Bonadio não enxerga nenhum movimento no Brasil capaz de colocar esse segmento novamente nos holofotes. “Nada existe no pop-rock, hoje, que seja capaz de criar um movimento. Vai aparecer, mas ainda não. Nos guetos musicais a gente tem muita coisa. O Brasil é um país que tem vários países dentro e tem muita coisa funcionando que vai vir para o mainstream. Mas falando especificamente desse gênero; ele está se reciclando. Eu não consigo ver uma seleção de bandas fazendo alguma coisa que vai ser mainstream”.

E o streaming no Brasil?
Para a gravação da série, Bonadio realizou alguns trabalhos com o Deezer. Assim, esse é um tema que não dá para fugir. E Bonadio está atento ao mercado agitado com declarações de diversos artistas sobre a rentabilidade de seus projetos dentro dessas ferramentas. Mas como anda o segmento nacional? As pessoas já aceitam pagar por música? Sobre isso o produtor afirma que o país está amadurecendo, mas que uma parte da demora para que essa mudança aconteça, se deve aos artistas. “Muito por culpa dos artistas, que começaram a dar as músicas desesperadamente na internet de graça, se criou uma mentalidade de que música dá em árvore, de que música não precisa pagar. Por quê se criou isso? Muito pela falta de regulamentação, da falta de lei, da pirataria, de algumas gravadoras que não souberam entender esse mercado. Erro de muita gente, que inclui os artistas”.

Mas o produtor vê o crescimento do mercado graças a forma como o streaming tem alterado a dinâmica de consumo de música. ”Agora, o mercado de streaming oferece uma coisa muito legal por um preço muito barato. Então, eu acho que nesse ponto você começa a atrair as pessoas”. E frisa que o pedido de grandes nomes por melhores pagamentos por suas obras é algo positivo, algo que grupos pequenos costumam questionar. “Isso é bom, os maiores é que podem ajudar os pequenos a serem remunerados de uma forma mais justa. Afinal de contas, sempre quem movimenta as negociações são os grandes artistas e as gravadoras detentoras dos grandes catálogos, porque os pequenos não podem fazer nada, eles jogam a regra vigente”.

Realities musicais
Bonadio foi o primeiro jurado confirmado para a versão brasileira do X-Factor e ponderou a relevância desse modelo de reality show para o mercado brasileiro destacando que muitas vezes o público cobra que o vencedor seja sucesso, mas esquece de outros participantes que saem dessa ferramenta de exposição e engrenam no mercado. “Existe uma ideia, ela surge e depois todo mundo começa a falar, falar, falar a mesma coisa, mas (ninguém) para pra pensar? Então, é assim… é essa história. ‘Ahh, o reality show não deu certo. Ninguém vingou, ninguém vingou’. Isso é uma coisa que você tá falando e que todo mundo fala. Você tem que parar pra pensar. Péra aí, ninguém vingou? Vamos ver.”

“Você sabia que a Maria Gadú saiu de um reality show? Então, como não vingou? Vingou. Eu poderia te dar aqui pelo menos uns quatro, cinco exemplos, muito legais. Gente que foi pro reality show e depois vingou. E tem gente que ganhou e não deu certo e tem outros projetos que ganharam e deram certo”. O produtor ainda destaca nomes como a banda Malta, “que foi um puta sucesso”, e relembra um grupo com o qual esteve envolvido. “A gente tem mais pra trás o Rouge que foi um projeto que até hoje, as meninas botaram um vídeo, lá cantando. Sei lá, de um dia pro outro, e deu milhões de views.” Mais precisamente, chegou a um milhão de visualizações após quatro horas no ar.

Sobre descobrir um novo sucesso no programa, ele destaca que sempre acredita nisso. “Mas não tenho essa obrigação. Sinceramente, eu não sei se eu irei produzir alguém do X-Factor. Isso é uma coisa que eu nunca falei pra ninguém. Eu não sei se eu vou produzir o ganhador. Eu posso até dizer que é provável que não. Eu conversei com as pessoas e falei, vamos deixar rolar, se chegar alguém que eu ache muito legal e eu ver que deu a liga, pode ser o cara que ganhou e pode não ser o cara que ganhou. Talvez eu produza. Mas eu não tenho a obrigação. Eu vou lá fazer o papel de jurado, para ajudar os candidatos e encontrar pessoas de muito talento”.

O mercado da música para os Geeks
A expansão do mercado geek/nerd nos cinemas e fora da esfera na qual sempre estiveram é uma realidade, sobre isso Bonadio afirma que “Fazer música pra essa galera é uma coisa necessária”, mas que poucas propostas focadas nesse segmento tem chegado até ele.

E por fim, comenta o ponto interessante desse mix entre a experiência dele no mercado musical e a equipe da Dezeer, destacando que “quando a gente chega em uma idade assim, como eu, que tenho 47 anos, você começa a pensar um pouco, poxa gostaria que outros fizessem o que eu faço. Que essa molecada ai fizesse, que seguisse os caminhos, por que eu gosto muito da música e dos caminhos que eu escolhi Então, eu sei que tem muita gente talentosa que precisa ter incentivo. Por que é difícil convencer os pais que você vai trabalhar com música já de cara, é difícil você convencer o mundo, é difícil achar os caminhos… Tomara que isso [a série] dê um incentivo”.

A série Vença do Jeito Certo vai ao ar sempre aos domingos e tem estreia prevista para o próximo dia 03, na faixa da meia-noite, na Fox Brasil. Composta por três episódios, o primeiro apresenta a Chef Paola Carosella, contribuindo com o dia-a-dia do Instituto Chão, o segundo traz o empresário Roland Bonadona auxiliando a equipe da Worldpackers, projeto que conecta hostels ao redor do mundo, oferecendo trabalho voluntário, e por fim, Rick Bonadio em conjunto com o time da Deezer.

(Omelete)



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